Relato
... Anterior 5º Dia - O sol que está fazendo lá fora não está mole!Acordei cedo, mas só fui tomar café mesmo às oito. Encontrei com duas gaúchas que haviam chegado na véspera, Vitória e Ana, que também já rodaram por muitos cantos do mundo. Após algumas mudanças de planos, elas resolveram alugar um buggy para percorrer as praias, só para conhecer a ilha.
Sugeri de irem à praia da Atalaia, para onde eu estava indo mesmo, aproveitar a maré baixa, e elas toparam, o que me poupou uma boa caminhada. Acho que chegamos lá umas 9:15 e, como a maré baixa era às 9:40, foi um ótimo horário. Além do mais, não havia o pessoal do Ilha Tour, apenas um outro pequeno grupo de turistas.
Elas não ficaram muito tempo e não curtiram como eu os lindos peixinhos coloridos nas piscinas naturais. Chegava tão perto dos peixes que as fotos não poderiam ficar boas...![]()
Hoje havia mais sol e, como ele reflete na areia, iluminava melhor os corais. Pacientemente esperei a oportunidade de fotografar um tímido squirrelfish, sempre escondido em um coral. Segui um pequeno linguado branco, sempre tentado se ocultar na areia do fundo.
Dessa vez, agora sabendo da orientação do IBAMA, não passei protetor solar e fiquei de camiseta para não queimar - o que não adianta muito, é claro, pois certas partes do corpo não dá para proteger apenas com uma camiseta...
Eram mais ou menos onze horas quando saí e, aproveitando a carona de uma família de Recife que havia alugado um taxi para levá-los pela ilha, voltei até perto da Vila dos Remédios. Finalmente fui passear nas ruínas do forte, parando antes numa sombra para finalmente passar o protetor solar. Os portugueses construíram vários fortes como esse no século XVII, a maioria no lado do mar de dentro, que possui mais enseadas adequadas para ancoragem segura. Existe um passeio histórico que conta tudo sobre os fortes e a vila, mas não cheguei a fazê-lo. O que mais me fascinava mesmo era a vista das praias lá do alto.
Voltei caminhando para a pousada sob um sol forte. Às duas horas, os dois amigos chegaram, contando as aventuras de seu mergulho e com nosso primeiro destino da tarde já acertado - Praia do Sueste. Chegando lá, primeiro eles foram passear um pouco enquanto eu aguardava na sombra. Depois, nadamos na baía para a distante área de alimentação, na maré alta, das tartarugas de pente - uma das espécies que ocorrem aqui, mas que desovam no continente. Eu, sem nadadeira, seguia mais devagar. Em duas ocasiões, vi um tartaruga passando, mas meio longe. Vi a praia tão longe e achei melhor começar a voltar. Aí, para a minha surpresa, apareceu uma bem embaixo de mim. Fantástico! Arrisquei umas fotos, mesmo com a baixa visibilidade - provavelmente a turbidez da água é matéria orgânica, o que justamente atrai as tartarugas.
De volta à praia, felizes e satisfeitos, demos uma passada na Atalaia, para o Felipe, que estava indo embora no dia seguinte, a conhecesse do alto mesmo. O visual na maré cheia é bem diferente, bem como o sol batendo na Ilha do Frade ao fundo.
No mirante da praia do Leão, Felipe armou uma rede que havia carregado para um lugar assim e ficamos lá esperando o pôr-do-sol, mas mais uma vez o sol sumiu cedo por detrás das nuvens. Demos ainda uma passada na praia do Boldró e no forte de São Pedro, já quase de noite e com a lua, praticamente cheia, aparecendo logo acima do Morro do Pico.
Meu jantar foi na Linda Lanches de novo, dessa vez pizza com suco de graviola. Só depois fui tomar banho. Os rapazes trouxeram o disquete com minhas fotos, mas como o André estava ocupado e já estava na hora de irmos ao IBAMA, não pudemos vê-las.
A palestra foi sobre o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, que ocupa quase a ilha toda. O fiscal do IBAMA - eles são apenas onze - mostrou slides e falou sobre os animais e plantas da ilha, inclusive sobre os animais introduzidos, como o lagarto teju ou tejú, e a gameleira, uma espécie endêmica de árvore.
Nos despedimos do Felipe, coitado, já tendo que voltar à realidade! Eu ainda teria um pouco mais de tempo para curtir a ilha.
6º Dia - Mais um mergulho memorável, com direito a uma enorme garoupa, uma arraia, algumas barracudas, muitos frades, mas... nenhum tubarão.
Comecei o dia cedo, tomando um café leve antes de sair para o mergulho. Encontrei Vitória e Ana no café, elas também iam mergulhar, bem como um casal do Rio que também estava na nossa pousada, Priscila e Pedro. Só que os quatro foram com a Noronha (mais tarde os vi no mesmo local de mergulho).
Quando cheguei no porto, vi o barco do Evaristo saindo - dessa vez os certificados sairam num barco, a turma do batismo em outro (o mesmo Alquimista II). O local de mergulho foi novamente na Ilha Rata, só que em outro ponto, chamado de Ressurreta. Dessa vez não foi oferecida a fotografia submarina, só a filmagem - é bom perguntar antes.
Desci na segunda turma, com o mesmo guia José Renato. Muitos corais formavam marquises, onde eu tinha a esperança de ver um tubarão, mas nada! Dava para entrar sob essas marquises e numa delas havia um buraco no alto, passamos por ele, foi muito legal. Os peixes eram grandes, bonitos, a quantidade de frades era enorme (perto da superfície já eram muitos, mas menores que ali embaixo). Quase no final as emoções aumentaram, com uma garoupa que devia ter bem um metro, um pequeno grupo de barracudas, alguns peixes trombeta e uma arraia não muito grande. A profundidade dessa vez não passou de oito metros e fiquei novamente 35min. Depois ainda fiquei fazendo snorkeling junto ao barco, enquanto outra turma descia. Chegamos de volta ao porto em torno de 11:30.
De volta à pousada, pude finalmente matar minha curiosidade quanto às fotos do mergulho anterior. Escolhi uma deles e mandei para meu irmão e alguns amigos - espero ter causado muita inveja no pessoal do trabalho! Um reforço no protetor solar - o dia foi de sol forte direto - e fui até a Vila para passar na Atlantis, pagar o passeio e pegar meu certificado de batismo. Como já me disseram, eu vou acabar tendo mais horas de mergulho que muita gente certificada...
Almocei no Restaurante do Biu, um buffet bem variado, com direito a sucos e sobremesas por apenas R$7. Dividindo a mesma mesa, o guia que estava fazendo o Ilha Tour com um pessoal de Brasília. Fiquei sabendo que chuveiro elétrico é proibido, para economizar energia elétrica. Eu já estava sabendo que a maioria das pousadas não tem água quente - a minha tem por aquecimento solar.
Voltei para a pousada para ficar um pouco fora do sol, saindo mais ou menos às duas e meia para o IBAMA, só para saber se haveria possibilidade de fazer algum passeio com eles na manhã seguinte - os passeios deles são só nas quartas e nas sextas - mas não daria tempo de eu voltar antes do meu vôo. Que pena, dizem que é legal fazer passeio com os guias de lá.
Fui então para a praia do Americano, escondida, uma caminhada no mato e entre pedras, numa trilha mal marcada. Olha que em vários locais eles estão colocando placas indicativas das trilhas, mas ali nem placa tinha, até achei que estava errada quando cheguei numas pedras que davam vista para a praia mas não daria para descer por ali. Acabei achando o caminho, me abaixando sob galhos de árvore e cuidadosamente evitando os cactos. Não é a toa que a praia fica vazia!
Ela é linda, pequena mas gostosa. Só de imaginar que provavelmente ninguém mais iria aparecer lá, dava vontade de não sair mais. Mas eu queria ir ainda à praia de Boldró, pois no IBAMA me disseram que nela também aparecem tartarugas. Na maré baixa, acho que dá para passar para ela pela pedras, mas tive mesmo que subir a trilha de volta para a estrada.
Chegando no Boldró, a maré ainda estava subindo. No extremo oeste da praia, a areia estava praticamente coberta pelo mar. Olhei e olhei, acho até que vi umas cabeças de tartaruga de vez em quando, mas não achei que estivesse bom para ir nadar sozinha. Fiquei mesmo curtindo o visual, caminhando na areia e aproveitando minha última tarde na ilha.
Pensando no último pôr-do-sol, fui ao outro extremo da praia ver qual seria a vista de lá. Descobri uma trilha, dessa vez bem marcada, que sobe as pedras, permitindo uma bela vista da praia com os Dois Irmãos longe ao fundo e decide que iria ficar por ali. Ainda subi mais um pouco para investigar a trilha e em um buraco na rocha vi uma viuvinha, pássaro preto com umas peninhas brancas na cabeça.
Sentei-me numa pedra, curti o fim da tarde, não teve o esperado sol-vermelho-descendo-no-mar, mas foi legal. Quando voltei para a pousada, havia uma linda lua. A lua cheia seria na noite seguinte, mas aquela lua não deixava nada a dever. Um presente.
Mais uma vez meu jantar foi no Linda Lanches, sanduíche com suco de mangaba. Depois fui para a palestra, com o luar iluminando meu caminho. Era impressionante como eu conseguia ver detalhes do Morro do Pico. Encontrei Evaristo no auditório, me contou ter feito um outro ótimo mergulho.
A palestra foi sobre as tartarugas marinhas, apresentada por um rapaz que trabalha no TAMAR. O projeto, que existe há 18 anos, atualmente possui diversas bases em toda a costa do Brasil, sempre procurando o apoio da população local para proteger a desova das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil: verde (única que desova em Noronha), de pente, cabeçuda, de couro e oliva. Apenas uma ou duas entre cada mil tartaruguinhas que nascem chegam à idade adulta. Muitas morrem ainda na praia, comidas por predadores como os caranguejos, mas a grande maioria morre no mar. Por mecanismos ainda não completamente claros, elas sempre voltam ao local onde nasceram quando chega sua vez de desovar.
Aproveitei a carona do Evaristo para ir à Vila. Queria muito ver as praias iluminadas pelo luar, então caminhei até o forte. Lindo demais, chave de ouro para minha viagem, dava para perceber até os corais dentro da água. Fiquei imaginando se daria para entrar na piscina natural de Atalaia com uma lua assim. O que estragava era a música vinda do Bar do Cachorro, onde depois passei para me despedir do Evaristo. Um visual daqueles merecia piano e violino, ou qualquer coisa melhor que o forró e o axé-music que rolavam lá... Soube que na noite seguinte haveria uma festa na praia. Caminhar de volta à pousada sob o luar e um céu incrivelmente estrelado foi maravilhoso.
7º Dia - Adeus, Fernando de Noronha. Espero que os homens sejam sábios para manterem essa ilha assim tão especial.
Acordei de madrugada e saí mais ou menos 6 e meia. Deveria ter saído antes, mas achei que estava ainda muito escuro e fiquei esperando clarear, o que aconteceu quase de repente. O caminho até a Baía dos Golfinhos é longo. Cerca de meia hora ao longo da BR-363, depois uns 20min numa estrada esburacada, onde acabei arrumando uma bolha na sola do pé.
Só eu de turista no mirante, onde estavam os pesquisadores do Centro de Estudos do Golfinho Rotador e a equipe de filmagem que está trabalhando com eles essa semana. Fiquei quietinha no meu canto, de orelha em pé pegando as explicações que eram dadas. Os golfinhos chegam ali desde cedo, ficam em grupos pela baía, volta e meia dando seus pulinhos. O mirante fica no alto da falésia que cerca a baía e só os pesquisadores são autorizados a descer ali e inclusive mergulham para identificar os golfinhos. Havia uns 50 golfinhos. Eles aprendem a saltar com mais ou menos seis meses de idade. Fiquei lá uns 90min, depois voltei para a pousada. Dei sorte de pegar uma carona no caminho, pois a tal bolha estava incomodando.
Cheguei na pousada a tempo de tomar café. Descobri que meu vôo era às 12:15 e não às 14:10 como eu havia confirmado na véspera por telefone! Com isso, meus planos de terminar a manhã com um longo banho de mar na praia da Conceição tiveram que ser revistos - só deu para ficar uns 15min lá, o suficiente para um rápido mergulho e umas últimas fotos.
Na volta os lugares no avião não são marcados. O rapaz que fez o meu check in me disse que não daria para ver muito, pois o avião não dá voltas como na ida, mas o melhor seria o lado direito. Realmente, desse lado deu para ver as praias de Atalaia, Sueste e Leão, sob um sol forte que acentuava as cores do mar. Adeus, Fernando de Noronha. Ou melhor, até uma outra vez.
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Última atualização 13/12/1999 |
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